Um suposto uso político da Polícia Rodoviária Federal (PRF) nas eleições presidenciais de 2022 veio à tona em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF). O coordenador de inteligência da PRF na época, Adiel Pereira Alcântara, afirmou que a corporação foi pressionada a realizar operações direcionadas a eleitores de determinadas regiões do país, sob ordens do então diretor-geral Silvinei Vasques. Segundo ele, “era uma polícia de governo, não de Estado”.
A declaração foi dada durante audiência de instrução no âmbito do inquérito que investiga uma articulação golpista para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com Alcântara, as ordens envolviam a abordagem de ônibus e vans que transportavam eleitores do Sudeste para o Nordeste — reduto eleitoral do então candidato petista.
O servidor detalhou que a direção da PRF exigia não apenas a execução das operações, mas também o envio de fotos das ações. “Ouvi que era ordem do DG esse policiamento direcionado. Ele vinculava a imagem da corporação ao ex-presidente. Isso era muito ruim para a PRF”, afirmou.
Alcântara relatou ainda uma reunião comandada por Djairlon Henrique Moura, então diretor de operações, em que foi solicitado o apoio da área de inteligência para mapear rotas com origem em São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro, com destino ao Nordeste. A justificativa oficial era “segurança viária”, mas o contexto, segundo ele, revelava uma intenção de interferir no fluxo de eleitores.
Outro servidor da PRF, Clebson Ferreira de Paula Vieira, também afirmou ter se assustado com as ordens que partiam de Brasília. Ele relatou um “desespero da cúpula” para identificar zonas eleitorais em que Lula liderava e Bolsonaro tinha baixo desempenho nas urnas.
Também ouvido, o general Freire Gomes — ex-comandante do Exército — negou a informação de que teria ameaçado prender Jair Bolsonaro. Segundo ele, houve apenas um alerta sobre possíveis consequências jurídicas em caso de rompimento institucional.
As declarações integram as investigações do STF sobre o núcleo central da tentativa de golpe, que envolve nomes como Jair Bolsonaro, os ex-ministros Braga Netto, Anderson Torres, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, além do ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Outro depoimento relevante foi o de Éder Lindsay Magalhães Balbino, da empresa Gaio Innotech Ltda., que prestou serviços ao Instituto Voto Legal. A empresa produziu o relatório usado pelo PL para contestar, sem sucesso, a confiabilidade das urnas eletrônicas.