
A eventual saída de Juscelino Filho (União Brasil) do Ministério das Comunicações, após a denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR), pode desencadear uma reforma ministerial mais ampla no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A decisão sobre o futuro do ministro deve ser tomada após a viagem do presidente a Honduras, segundo aliados próximos ao Planalto.
Denunciado por suspeita de desvio de emendas parlamentares, Juscelino Filho é acusado de ter cometido os crimes de organização criminosa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e fraude em licitações, em esquema envolvendo a Codevasf. O prejuízo estimado é de R$ 835,8 mil. A denúncia foi protocolada no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (8).
Troca de cadeiras à vista
Caso a saída de Juscelino seja confirmada, duas mudanças principais estão sendo discutidas dentro do União Brasil. Uma delas é o deslocamento do atual ministro do Turismo, Celso Sabino, para as Comunicações, proposta que encontra resistência dentro da própria legenda. Em contrapartida, o PSD de Gilberto Kassab já sinalizou ao Planalto que deseja assumir o comando do Turismo, como parte de uma possível aliança eleitoral para 2026.
No cenário discutido, o União Brasil seria compensado com o Ministério da Ciência e Tecnologia, hoje chefiado por Luciana Santos (PCdoB), que seria realocada para o Ministério das Mulheres. Cida Gonçalves, atual titular da pasta, poderia deixar o governo.
Resistência e crise interna
A cúpula do União Brasil se reuniu logo após a denúncia para discutir estratégias e se manteve na defesa de Juscelino Filho, que é deputado licenciado. O presidente nacional do partido, Antônio Rueda, e o líder na Câmara, Pedro Lucas (MA), afirmaram que o ministro ainda não teve direito ao contraditório e que a denúncia não representa condenação.
Internamente, o PT avalia que a permanência de Juscelino se tornou insustentável. O ministro já havia gerado desconforto anteriormente, como no episódio em que utilizou um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para participar de um leilão de cavalos. Além disso, a legenda de Juscelino tem entregado poucos votos ao governo no Congresso e mantém nomes da oposição, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, em pré-campanha para a Presidência da República.
Investigação da PF e defesa
As acusações contra Juscelino surgem de investigações da Polícia Federal, que o indiciou em 2024 por crimes cometidos quando era parlamentar. A denúncia afirma que ele atuou para desviar recursos públicos destinados a obras de pavimentação em municípios do Maranhão, com verbas da Codevasf.
A defesa do ministro afirma que não foi formalmente notificada e critica o que considera um “punitivismo midiático”, acusando o Ministério Público de se manifestar à imprensa antes dos autos judiciais.
A possível saída de Juscelino deve ser o ponto de partida para a reorganização de forças dentro do governo e da base aliada, em um momento em que Lula busca ampliar apoio político com foco nas votações no Congresso e nas articulações para 2026.