A decisão do Congresso Nacional de derrubar o decreto que reajustava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) acendeu um alerta no núcleo político do governo e provocou forte reação na cúpula do PT. A leitura entre lideranças petistas é de que a medida, articulada pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), cria obstáculos significativos à gestão de programas sociais e pode impactar o projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nos bastidores, dirigentes do partido consideram que o gesto representou mais do que uma discordância pontual. “Os caciques do PT consideram que a derrubada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi patrocinada pelos presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), para deliberadamente sufocar o governo e dificultar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou um interlocutor próximo à direção nacional da sigla.
A avaliação no Planalto é que, ao anular uma medida que garantiria recursos para iniciativas como o Pé-de-Meia, o Farmácia Popular e outros programas sociais, o Congresso impôs um revés com consequências práticas e simbólicas para o governo. Além disso, o impacto se dá em meio à alta nas contas de energia elétrica — atribuída por integrantes do Executivo à derrubada de vetos anteriores pelo Legislativo — e a um ambiente fiscal apertado.
Diante do cenário, o PT prepara uma estratégia de resposta institucional e política. A legenda pretende resgatar projetos com forte apelo popular que estavam incluídos na medida provisória enviada para compensar o IOF, como a taxação das casas de apostas online, a cobrança de impostos sobre grandes fortunas e a revisão de subsídios que favorecem setores do Centrão. A ideia é discutir cada tema separadamente, reforçando a narrativa de responsabilidade social e equilíbrio fiscal.
A crise foi agravada por um episódio relatado por aliados de Lula: segundo fontes, Hugo Motta teria expressado insatisfações ao Planalto na véspera da votação, sem mencionar que pautaria a medida que revogaria o IOF. A falta de aviso prévio foi interpretada como uma ruptura no canal de diálogo institucional.
Aliados também apontam que Alcolumbre estaria atuando para pressionar Lula a promover mudanças na equipe ministerial, especialmente em torno do Ministério de Minas e Energia, hoje ocupado por Alexandre Silveira (PSD), em meio a disputas por indicações em agências reguladoras. A cúpula do PT, no entanto, avalia que não é o momento de ceder a pressões políticas.
No Planalto, o entendimento é de que a revogação do IOF por meio de um Projeto de Decreto Legislativo extrapola os limites constitucionais, uma vez que se trata de prerrogativa do Poder Executivo. Por isso, o governo deve recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), caso a Advocacia-Geral da União (AGU) confirme que houve invasão de competências.
Com o ambiente político tensionado, articuladores do governo avaliam que a relação institucional com o Congresso precisará ser redefinida. “Não se senta à mesa para negociar em posição de desvantagem”, resumiu um interlocutor ligado à articulação política.
Enquanto isso, o PT mira também o debate público. A estratégia inclui campanhas nas redes sociais e mobilização da base aliada no Congresso para evidenciar quais interesses estão em jogo nas decisões que afetam diretamente a população, como o reajuste na conta de luz ou o financiamento de programas sociais.
A expectativa, entre lideranças petistas, é que esse seja um ponto de virada na condução política do governo. Mais do que um episódio pontual, o revés no IOF é visto como parte de um processo mais amplo, que exige reposicionamento e firmeza para garantir a estabilidade institucional e a continuidade da agenda social.