O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Augusto Passos Rodrigues, afirmou nesta terça-feira (30) que o órgão investiga a participação do crime organizado nos casos de adulteração de bebidas alcoólicas com metanol registrados em São Paulo.
Segundo Rodrigues, há indícios de conexão com investigações sobre a importação irregular da substância pelo porto de Paranaguá (PR), já alvo de operações anteriores.
“A investigação dirá se há conexão com o crime organizado. Vamos atuar de forma integrada, em conjunto com a Polícia Civil de São Paulo e outras instâncias, como determinou o ministro da Justiça”, destacou.
Na véspera, o secretário da Segurança Pública paulista, Guilherme Derrite, havia descartado a participação da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) nos casos.
Suspeita de envolvimento do PCC
A hipótese ganhou força no domingo (28), após a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) divulgar nota sugerindo que o metanol usado na adulteração de bebidas poderia ser o mesmo importado ilegalmente pelo PCC para fraudar combustíveis.
Segundo a entidade, o fechamento de distribuidoras e formuladoras ligadas ao crime organizado — já investigadas por importar metanol de forma fraudulenta — teria deixado estoques que podem ter sido revendidos a destilarias clandestinas e grupos falsificadores de bebidas.
No mês passado, uma megaoperação constatou que combustíveis comercializados em postos de fachada tinham até 90% de metanol, quando a legislação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) permite no máximo 0,5%.
Mortes e casos confirmados
Até esta terça-feira (30), São Paulo registra três mortes confirmadas por intoxicação de metanol em bebidas adulteradas e seis casos confirmados, além de outros dez em investigação.
As vítimas fatais são:
- um homem de 58 anos, em São Bernardo do Campo (24/9);
- um homem de 54 anos, na capital (15/9);
- um homem de 45 anos, cuja residência ainda está em apuração.
Outro óbito segue em análise, sem confirmação da forma de contaminação.
Alerta nacional
Na última sexta-feira (26), o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad) recebeu notificação de nove casos em 25 dias no estado de São Paulo, todos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas.
De acordo com a Senad, os registros são inéditos no país por ocorrerem em “cenas sociais de consumo”, como bares, com diferentes tipos de bebida (uísque, gim, vodca), e não em situações de uso deliberado de combustível, como observado em anos anteriores.
O órgão alertou para o risco de surto epidêmico, com múltiplos casos graves e elevada taxa de letalidade, exigindo resposta rápida das autoridades.
O que é o metanol?
O metanol (CH₃OH) é um álcool simples, incolor, inflamável e altamente tóxico. Usado principalmente na indústria química, pode causar intoxicações fatais quando ingerido. Em concentrações elevadas, provoca sintomas como náusea, dor abdominal, convulsões, visão turva, desmaios e coma.
Recomendações à população
O Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo orienta que bares, mercados e distribuidoras reforcem a checagem da procedência dos produtos. Para consumidores, a recomendação é adquirir apenas bebidas de fabricantes legalizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal.
Em caso de suspeita de intoxicação, é fundamental procurar atendimento médico imediato.