Uma recente pesquisa divulgada nesta quarta-feira (2) pela Quaest, encomendada pela Genial Investimentos, revela um cenário desafiador para o presidente Lula e sua gestão no Congresso Nacional. Quase metade dos deputados federais entrevistados (46%) apontam uma avaliação negativa do governo, a pior marca desde o início do mandato em 2023. Em contrapartida, o grupo que enxerga o governo positivamente caiu para 27%, o índice mais baixo registrado até o momento.
A pesquisa ouviu 203 parlamentares entre 7 de maio e 30 de junho de 2025, abrangendo 40% da Câmara dos Deputados e distribuindo a amostra conforme regiões do país e tendências ideológicas partidárias.
Tendência clara de desaprovação
Comparando com levantamentos anteriores, o aumento da rejeição é marcante. Em agosto de 2023, apenas 33% dos deputados avaliavam o governo negativamente. Hoje, esse número subiu 13 pontos percentuais. Já o grupo que aprovava a gestão petista diminuiu de 35% para 27% no mesmo intervalo. A percepção de desempenho “regular” se manteve estável, em torno de 24%.
O segmento que mais intensificou sua desaprovação foi o dos deputados independentes, cujo índice de avaliação negativa mais que dobrou, saltando de 20% para 44%. Entre os parlamentares alinhados à base governista, 71% mantêm uma visão positiva da gestão, enquanto opositores se mantêm firmes em sua rejeição, com 96% classificando o governo de forma negativa.
Regiões e espectros ideológicos: o retrato do país no Congresso
A análise regional mostra que o Nordeste é a única região com equilíbrio entre aprovação (37%) e reprovação (33%), além de 30% de parlamentares que consideram o governo regular. Já nas regiões Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Norte, a desaprovação prevalece com índices que variam entre 47% e 57%.
No espectro ideológico, os deputados identificados com a esquerda demonstram forte apoio, com 84% aprovando o governo Lula, enquanto na direita o índice de desaprovação chega a 86%. O “centro” político apresenta maior divisão, com maioria classificando o governo como regular (53%).
Olhando para 2026: Lula candidato, mas a oposição ganha espaço
Apesar da crise de imagem, 68% dos deputados acreditam que Lula tentará a reeleição em 2026. Porém, a percepção de quem liderará a disputa é diferente: metade dos parlamentares vê a oposição como favorita para vencer o pleito, enquanto apenas 35% apostam no presidente ou em um candidato ligado ao seu governo.
Entre os nomes da oposição mais citados, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, lidera com 49% das menções espontâneas. A figura de Jair Bolsonaro, apesar de inelegível, segue relevante para 23% dos deputados, embora a maioria (51%) defenda que ele abra mão da disputa presidencial.
Temas do Congresso: pautas polêmicas e consensos
A pesquisa também explorou o posicionamento dos deputados sobre temas em debate no Congresso. O fim da escala 6×1 — regime de trabalho no setor de transporte ferroviário — é rejeitado por 70% dos parlamentares, principalmente entre a oposição e os independentes.
Por outro lado, há forte apoio a pautas como a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda (88%), a exploração de petróleo na Amazônia (83%) e o aumento das penas para roubos (76%).
Já a proposta de limitar os supersalários no funcionalismo público divide opiniões, com 53% contrários e apenas 32% favoráveis. O projeto visa restringir vencimentos acima de R$ 46.366, um limite que, na prática, é ultrapassado por altos salários no setor público.
Desafios estruturais e tensões institucionais
Na avaliação dos deputados, a economia permanece como o principal problema do país (31%), mas a preocupação com a violência tem crescido expressivamente, passando de 7% para 23% das citações, tornando-se o segundo tema mais destacado. Corrupção aparece em terceiro lugar, com 16%.
Quanto à relação entre Legislativo e Judiciário, quase metade dos parlamentares (49%) afirma que o Supremo Tribunal Federal (STF) “sempre” invade competências do Congresso, revelando um clima de tensão entre os poderes.
A liderança na Câmara e sua aprovação
Mesmo diante das divergências, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), mantém elevado índice de aprovação entre os deputados: 68% consideram sua gestão positiva, especialmente entre governistas (77%) e independentes (82%). A oposição é o grupo que apresenta maior reserva quanto à sua administração.