A cidade de Palmeira dos Índios, em Alagoas, está sob a tensão de um processo de demarcação de terras indígenas que se arrasta desde 2010 e agora alcança sua fase mais crítica: a homologação pelo Presidente da República. O avanço deste processo, que teria sido ignorado pelo município e estado em etapas anteriores, coloca em risco a subsistência de milhares de famílias e a principal fonte de abastecimento agrícola da região.
A tensão se concentra na área demarcada pela FUNAI, que abrange cerca de 7 mil hectares. Embora represente uma porção do território, esta é considerada a zona mais produtiva de Palmeira dos Índios, sendo responsável por mais de 60% da produção de hortifrúti e outros itens que abastecem a cidade e cerca de 28 municípios vizinhos. O risco iminente é de um colapso na economia local e na cadeia de abastecimento.
A situação afeta diretamente entre 2.500 e 3.000 famílias, totalizando mais de 10 mil pessoas, que não são posseiros como acusam, mas sim proprietários com títulos registrados há gerações em muitos casos, há mais de um século. Contrariando narrativas que sugerem a presença de latifundiários, os agricultores afirmam que as terras são pequenas parcelas familiares, resultando em uma “reforma agrária natural” de subsistência.
O clima na região é de “filme de terror”, segundo relatos. A presença constante de técnicos da FUNAI, escoltados por carros da polícia, apavora a população, composta majoritariamente por pequenos agricultores ordeiros e idosos. o Vereador Lúcio Medeiros argumenta que é uma “injustiça” transferir terras de um grupo de trabalhadores pobres para outro, defendendo que, embora os povos originários mereçam reparação, ela não deve ocorrer “à custa das terras de quem sempre trabalhou” e produz alimento para o estado.
Os agricultores também expressam preocupação com a questão da indenização. A expectativa é que, se a terra for homologada como propriedade da União, a indenização se limite às benfeitorias (casas e estruturas construídas), sendo o valor do terreno ignorado. Os produtores temem que esse ressarcimento seja irrisório, especialmente comparado ao valor real das propriedades.
Os produtores solicitam diálogo e alternativas, como a busca por novas áreas, a indenização justa dos proprietários ou o investimento em estruturas nas aldeias já existentes. Enquanto a maioria dos líderes políticos do estado se mantém em silêncio devido à sensibilidade do tema indígena, os agricultores lutam para que a etapa de homologação seja barrada, temendo a fase final de desintrusão, que resultaria na expulsão de milhares de famílias de suas terras de origem.












