Líderes partidários da Câmara dos Deputados avaliam que a decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras enfraquece politicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro e inviabiliza, ao menos por ora, a articulação de um projeto de anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de Janeiro.
Segundo deputados ouvidos reservadamente, o Congresso não teria como, em meio a um cenário de guerra comercial com os EUA, atender a uma exigência vinda de uma potência estrangeira que tenta interferir em assuntos internos do Brasil, especialmente em decisões judiciais.
Nesse contexto, mesmo que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), estivesse costurando com aliados de Bolsonaro um texto de consenso sobre a anistia, a chance de o tema avançar agora é considerada remota.
A reação ocorre após a divulgação de uma carta assinada por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente e deputado federal licenciado, em conjunto com o comentarista Paulo Figueiredo. No documento, ambos pedem ao Congresso Nacional que lidere uma saída institucional para evitar a taxação imposta por Trump, começando com a aprovação de uma anistia “ampla, geral e irrestrita” aos envolvidos no chamado “inquérito do golpe”.
“Apelamos para que as autoridades brasileiras evitem escalar o conflito e adotem uma saída institucional que restaure as liberdades. Cabe ao Congresso liderar esse processo, começando com uma anistia ampla, geral e irrestrita, seguida de uma nova legislação que garanta a liberdade de expressão, especialmente on-line, e a responsabilização dos agentes públicos que abusaram do poder”, diz o texto divulgado publicamente.
A proposta foi recebida com ironia nos bastidores do Legislativo. Parlamentares de diferentes partidos consideram “inaceitável” condicionar a revogação de sanções econômicas externas a decisões do Legislativo brasileiro em temas sensíveis como anistia e regulação digital.
A ofensiva de Trump contra o Brasil, aliada às reivindicações de Eduardo Bolsonaro, acirrou ainda mais os ânimos entre parlamentares e aliados do ex-presidente. Para líderes do centrão, o movimento pode minar de vez as chances de qualquer avanço da proposta de anistia neste semestre.