O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira (17) que 71,1% dos trabalhadores por aplicativo estavam em situação informal em 2024, enquanto entre os que não utilizam plataformas digitais a taxa foi de 43,8%.
Os dados integram o módulo “Trabalho por meio de plataformas digitais 2024” da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, realizada em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Conforme o levantamento, o Brasil registrou 1,7 milhão de trabalhadores plataformizados no ano passado, o equivalente a 1,9% da população ocupada no setor privado. O número representa um crescimento de 25,4% em relação a 2022, quando havia cerca de 1,3 milhão de profissionais atuando via aplicativos.
Remuneração e jornada de trabalho
O rendimento médio mensal desses trabalhadores foi de R$ 2.996,00, valor 4,2% superior ao dos não plataformizados (R$ 2.875,00). Porém, quando se considera o ganho por hora, o cenário se inverte: R$ 15,40/hora entre os plataformizados contra R$ 16,80/hora dos demais. Isso ocorre porque a jornada média semanal é mais longa — 44,8 horas, frente a 39,3 horas para os trabalhadores tradicionais.
Mesmo assim, o IBGE ressaltou que a diferença de rendimento médio diminuiu em comparação a 2022, quando os trabalhadores por aplicativo recebiam 9,4% a mais que os outros profissionais.
Escolaridade e diferenças salariais
Entre os trabalhadores com menor nível de escolaridade, os plataformizados ganham mais de 40% acima dos que não utilizam aplicativos. Já entre os que possuem ensino superior completo, ocorre o oposto: o rendimento médio de R$ 4.263,00 é 29,8% inferior ao dos não plataformizados, que ganham R$ 6.072,00.
Segundo o analista Gustavo Geaquino, essa diferença está relacionada ao tipo de ocupação. Muitos profissionais com curso superior acabam desempenhando atividades que exigem baixa qualificação, como motoristas de aplicativo, enquanto há menor presença em cargos de gestão ou técnicos.
Relação de dependência com os aplicativos
O estudo também avaliou o grau de dependência dos trabalhadores em relação aos aplicativos. No transporte de passageiros, 91,2% dependem da plataforma para definir o valor recebido e 76,7% para escolher os clientes atendidos.
Entre os entregadores, 70,4% afirmaram que os prazos de entrega são determinados pelos aplicativos, e 76,8% relataram que o formato de pagamento também é definido pelas plataformas. Mais de 30% disseram ter sofrido ameaças de punições ou bloqueios.
Por outro lado, 78,5% dos motoristas afirmaram ter liberdade para definir seus próprios dias e horários de trabalho.
Distribuição geográfica e áreas de atuação
A Região Sudeste concentra a maior parte dos trabalhadores por aplicativo do país (53,7%). No Nordeste, 69,4% atuam no transporte particular de passageiros. Já o Norte apresenta a menor proporção de profissionais de serviços gerais (8,3%), enquanto o Sul (23,2%) e o Sudeste (20,4%) registram as maiores participações.
De modo geral, 86,1% dos trabalhadores por aplicativo atuam por conta própria, e 6,1% são empregadores. A maioria está no setor de transporte, armazenagem e correio (72,5%), refletindo a predominância de aplicativos de mobilidade e entrega no país.