O deputado alagoano Arthur Lira, relator do projeto de isenção do Imposto de Renda na Câmara, tem repetido em conversas reservadas que não incluirá nenhuma emenda no texto. A decisão, já consolidada nos bastidores, retira o espaço para acordos na fase de relatoria e empurra a batalha para o plenário: quem quiser alterar o conteúdo terá de apresentar destaque, buscar votos abertos e assumir politicamente a autoria das mudanças.
A postura de Lira não é apenas técnica — é diretamente motivada pela pressão crescente da sociedade e pela mobilização nas redes sociais. Nos últimos dias, o debate ganhou intensidade nas plataformas digitais após as manifestações em defesa da medida, elevando o custo reputacional de parlamentares que eventualmente tentassem esvaziar os mecanismos de compensação fiscal. As informações são do jornalista Cleber Lourenço do ICL Notícias.
Em uma conversa com o site, o deputado Rubens Pereira Jr., que presidiu a comissão que avaliou a proposta na Câmara, resumiu o clima: “Toda população está acompanhando a votação desse projeto. A pressão nas redes está enorme. Vai ser uma votação decisiva para mostrar quem está do lado da população ou dos super ricos. Quem for contra o povo vai pagar o preço nas urnas.”
A estratégia de parcelas da oposição, até aqui, foi distinta: aprovar a isenção de forma rápida e, ao mesmo tempo, tentar esvaziar as medidas de compensação — medidas essas que envolvem tributações sobre rendas mais altas e mecanismos financeiros. O cálculo político passa pela expectativa de que parte do eleitorado não tenha capacidade intelectual de fazer a correlação direta entre a supressão da compensação e os impactos fiscais subsequentes, deixando o governo na posição de obrigar o presidente a vetar trechos sensíveis.
Mas a equação mudou diante do cenário digital, avalia o material do ICL. Segundo relatos de bastidores, alguns deputados do Centrão, isoladamente, passaram a avaliar que o risco político de aparecer como responsável por fragilizar a proposta supera eventuais ganhos corporativos ou setoriais. A percepção é de que as redes funcionam hoje como um amplificador imediato de responsabilização: movimentos, hashtags e menções públicas podem transformar um destaque técnico em um problema eleitoral.
Bancadas
Ao fechar o relatório e recusar a inclusão de emendas, Lira força uma exposição direta das bancadas. Não existe mais a desculpa do relatório que “foi modificado por sugestão técnica”: cada voto em destaque ficará registrado e poderá ser cobrado nas urnas. Para o governo, essa dinâmica é vantajosa, porque permite associar a defesa da isenção à necessidade de preservar mecanismos que garantam equilíbrio fiscal. Para a oposição que busca cortes na compensação, torna-se mais difícil agir sem pagar um custo público.
A votação em plenário, portanto, será mais do que uma disputa parlamentar: será um termômetro político. Está em jogo não apenas a arquitetura do projeto, mas também a capacidade das redes sociais de influenciar decisões legislativas em tempo real. Se a proposta for aprovada no formato atual, ficará demonstrado que a pressão pública conseguiu limitar manobras capazes de desfigurar o texto; se surgirem destaques bem-sucedidos, virá à tona quem bancou as mudanças e qual o preço político cobrado pelos eleitores.
Em entrevista concedida na semana passada, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que há unanimidade na Câmara dos Deputados para aprovar a isenção total de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e parcial para quem recebe até R$ 7.350. Ele disse que o desafio do texto está em encontrar equilíbrio na compensação para garantir que cerca de 16 milhões de brasileiros tenham isenção parcial ou total do imposto.
A proposta foi aprovada em julho deste ano em comissão especial criada pela Câmara dos Deputados para analisá-la. No Plenário, a proposta tramita em regime de urgência.
Fonte: Jornal Extra