Com decisão silenciosa, novo papa retoma tradição suspensa por Francisco e injeta 2,5 milhões de euros em gratificação excepcional
Desde que assumiu o trono de Pedro em 8 de maio, o Papa Leão XIV vem dando sinais de que pretende mesclar continuidade com toques pessoais em sua administração. Um desses gestos passou quase despercebido, mas teve forte ressonância dentro dos muros do Vaticano: a retomada de um pagamento tradicional aos funcionários que atuam durante o período de sede vacante – quando a Igreja está entre pontificados.
Interrompido em 2013 por decisão do Papa Francisco, o benefício voltou silenciosamente. Em maio, pouco mais de 5 mil trabalhadores da Cúria Romana, museus, biblioteca, farmácia e veículos de comunicação do Vaticano encontraram uma gratificação de 500 euros em seus contracheques. No total, a medida movimentou cerca de 2,5 milhões de euros.
Uma decisão simbólica, mas estratégica
A bonificação, embora pontual, carrega um forte simbolismo. Criada para reconhecer o empenho de quem mantém a engrenagem da Santa Sé funcionando mesmo em tempos de incerteza, a medida foi vista por analistas como um recado claro: Leão XIV deseja preservar o espírito de continuidade institucional, sem esquecer de valorizar quem sustenta o dia a dia do Vaticano.
Embora tenha mantido boa parte da política de austeridade implantada por Francisco, o novo papa optou por reverter essa suspensão específica. Em sua primeira fala aos trabalhadores, destacou a importância de “honrar a memória viva da Sé Apostólica” — uma forma de reconhecer o esforço coletivo durante a fase de transição.
Francisco e a escolha pela contenção
A gratificação havia sido eliminada por Francisco em seu primeiro ano de pontificado, dentro de um conjunto de medidas voltadas à transparência nas finanças da Igreja. À época, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, argumentou que “não era apropriado autorizar pagamentos extraordinários diante de um cenário econômico delicado”. Os valores foram, então, redirecionados para iniciativas sociais e obras de caridade.
Discrição com impacto
Embora o retorno do bônus não tenha sido oficialmente anunciado, o gesto repercutiu internamente. Em meio a um déficit orçamentário superior a 70 milhões de euros, o pagamento foi entendido como um reforço moral e financeiro para os servidores — mesmo que não represente aumento salarial ou política permanente.
Para o Vaticano, pode ser um aceno importante: a estabilidade institucional também depende do reconhecimento àqueles que permanecem nos bastidores. Em tempos de contenção e reformas, o gesto discreto do novo papa ganha força por aquilo que simboliza — e não apenas pelo que deposita na conta.