A prisão da deputada federal afastada Carla Zambelli (PL-SP), condenada a 10 anos e 8 meses pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pode enfrentar obstáculos na Itália, segundo o embaixador do Brasil no país, Renato Mosca. A parlamentar se exilou no exterior dias após a condenação por envolvimento em uma suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Antes de a Polícia Federal brasileira acionar a Interpol para incluir Zambelli na lista de difusão vermelha — mecanismo usado para alertar autoridades de outros países sobre procurados internacionais — a deputada embarcou rumo aos Estados Unidos e, em seguida, à Itália, onde entrou utilizando seu passaporte italiano. Por ter chegado antes da formalização do pedido, ela não encontrou barreiras nos controles migratórios do aeroporto de Roma.
Apesar disso, até esta terça-feira (10), seu nome ainda não constava na versão pública da lista da Interpol.
“Mesmo que se saiba onde ela está, não há mandado de busca. A polícia [italiana] não pode entrar em uma residência para prendê-la. A detenção só pode ocorrer em espaço público, o que dificulta a operação, mas não impede que ela aconteça”, explicou o embaixador à Folha de S.Paulo.
Renato Mosca também afirmou que as autoridades italianas e brasileiras estão em contato por meio de um adido da Polícia Federal em Roma. Segundo ele, a embaixada acompanha o caso junto aos ministérios italianos competentes, em articulação com o Itamaraty e a PF no Brasil.
Zambelli, que tem cidadania italiana, não é considerada intocável, ressaltou Mosca. Ele frisou que a extradição só pode ser solicitada após a prisão, conforme o tratado bilateral em vigor desde os anos 1990.
“Temos atualmente 14 processos de extradição em curso na Itália. Quatro envolvem pessoas com dupla nacionalidade. Neste ano, já conseguimos a extradição de um ítalo-brasileiro. Ter cidadania italiana não isenta ninguém de responder à Justiça”, afirmou.
Embora o processo de extradição possa levar meses — por envolver análises jurídicas e políticas — o embaixador vê chances de um desfecho favorável à Justiça. Ele destacou que crimes cibernéticos, como os atribuídos a Zambelli, têm alta gravidade no sistema jurídico italiano.
Nos bastidores, aliados da deputada buscam apoio de figuras da direita europeia, inclusive da primeira-ministra Giorgia Meloni. Mosca, no entanto, acredita que afinidades ideológicas não devem influenciar o andamento do processo.
“Não vejo convergência entre um governo comprometido com o combate ao crime e alguém condenado com pleno direito de defesa por crimes digitais. A lei italiana trata esse tipo de infração com máxima seriedade”, concluiu.
Enquanto isso, a rede social X (antigo Twitter) recorre ao STF contra decisão do ministro Alexandre de Moraes que determinou o bloqueio das contas da parlamentar.