A servidora pública aposentada Cecília Rodrigues Mota, com renda líquida de R$ 7,4 mil mensais, comprou dois veículos Ford Mustang elétricos em pouco mais de dois meses. Os carros, adquiridos diretamente da montadora entre janeiro e março do ano passado, custaram R$ 451.806,90 cada, totalizando R$ 903,6 mil.
Entre dezembro de 2023 e abril de 2024, Cecília desembolsou cerca de R$ 1,3 milhão na compra de veículos. Além dos dois Mustangs, um vermelho e outro cinza, ela adquiriu também uma caminhonete Ford Ranger e um Volkswagen Nivus. As informações constam em documentos enviados à CPMI do INSS no Congresso Nacional e foram reveladas pela coluna de Andreza Matais, no portal Metrópoles.
Mesmo após a deflagração da operação Sem Desconto, Cecília teria continuado a utilizar os veículos. No dia 20 de maio deste ano, comprou dois carregadores para carros elétricos em uma loja de Fortaleza, segundo registros da investigação. Lançado em 2019, o modelo elétrico do Mustang é um SUV com design inspirado no clássico dos anos 1960, de carroceria cupê.
As compras de alto valor não se restringiram aos veículos. Em abril deste ano, Cecília gastou R$ 30.188 em um relógio de aço e titânio com safira incrustada, adquirido em uma loja de Fortaleza. Na mesma ocasião, comprou também um colar de ouro 18k com pérolas por R$ 12,4 mil e um par de brincos de ouro com pérolas por mais R$ 13 mil.
As movimentações financeiras da aposentada levantaram suspeitas e a colocaram no centro das investigações da chamada “Farra do INSS”, um esquema que envolve descontos ilegais em aposentadorias e movimentações suspeitas entre servidores e entidades de fachada. Cecília é apontada como uma das operadoras do esquema. De acordo com os investigadores, ela recebia recursos dessas entidades e realizava pagamentos a servidores do INSS, órgão onde trabalhou antes de se aposentar.
Natural de Fortaleza, Cecília presidia duas associações que estão sob investigação: a Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (AAPEN) e a Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB). Esta última chamou a atenção da Controladoria-Geral da União por conseguir 778 novas filiações de aposentados por hora, sem comprovar que os beneficiários desejavam se associar.
Outros servidores também são investigados por ostentação de bens de alto valor. Um ex-procurador do INSS, com salário de aproximadamente R$ 24 mil, comprou um Porsche Cayenne híbrido por R$ 787 mil, em agosto de 2024, por meio da empresa da esposa. A operação foi registrada em documentos sigilosos enviados à CPMI.
A coluna do Metrópoles tentou contato com Cecília por e-mail, mas não obteve retorno até o momento. O espaço segue aberto para manifestação.