O consumo das famílias na capital voltou a cair e encerrou o mês com retração de 0,51% depois de registrar um leve crescimento em maio, impulsionado em parte pelas festividades juninas. No acumulado dos últimos 12 meses, a queda foi ainda mais acentuada, chegando a 3,3%.Reflexo de um cenário de maior cautela por parte dos consumidores, impactados por fatores como inflação, endividamento e instabilidade no mercado de trabalho, os dados foram levantados pelo Índice de Consumo das Famílias (ICF), pesquisa realizada pelo Instituto Fecomércio AL em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
“Os dados apontam um ambiente econômico menos favorável ao consumo, exigindo atenção por parte dos empresários do setor varejista, que dependem diretamente da disposição das famílias em consumir”, explica Francisco Rosário, assessor econômico do Instituto Fecomércio.
Apesar da queda no índice geral, cinco dos sete subindicadores do ICF ainda se mantêm acima dos 100 pontos, marca que indica um nível considerado satisfatório. O maior destaque continua sendo o item “Perspectiva Profissional”, que atingiu 142,1 pontos, seguido por “Emprego Atual” (138,5) e “Renda Atual” (122,7). No entanto, o total dos componentes registra queda na comparação com o mesmo período do ano anterior, o que revela que, embora ainda exista confiança por parte dos consumidores, ela vem se mostrando mais frágil.
Do outro lado do índice, dois subindicadores continuam abaixo da linha do otimismo, fixada em 100 pontos, refletindo uma postura mais cautelosa dos consumidores em relação ao presente. O “Momento para Duráveis”, que registrou 90,4 pontos, teve a pior variação no mês, com queda de 4,4%, sinalizando que a população ainda não enxerga condições favoráveis para a compra de bens de maior valor. Já o “Nível de Consumo Atual”, mesmo com um leve avanço de 1,1% em relação ao mês anterior, caiu 6,7% no comparativo anual, indicando uma retração mais profunda e persistente no comportamento de consumo imediato.
Apesar do cenário atual ainda indicar retração, há sinais de que essa realidade pode se transformar. O subindicador “Perspectiva de Consumo” alcançou 111,2 pontos e apresentou crescimento tanto na comparação mensal (0,5%) quanto na anual (8,6%), revelando uma expectativa positiva quanto ao futuro econômico.
Segundo o economista, o panorama é de contrastes. “Estamos com um cenário misto: otimismo em relação ao futuro e à estabilidade no emprego e crédito, mas cautela no consumo presente, especialmente no que diz respeito a bens duráveis. Essa combinação sugere que, embora os consumidores estejam confiantes em sua situação futura, ainda enfrentam restrições ou incertezas no presente”, destaca.
A retração no consumo foi mais acentuada entre as famílias com renda de até 10 salários mínimos
Os dados indicam que o otimismo no consumo está concentrado principalmente entre as famílias de maior renda. Enquanto aquelas com ganhos acima de 10 salários mínimos registraram crescimento de 0,19% no mês e uma alta significativa de 11,94% no acumulado anual, as famílias com renda de até 10 salários mínimos enfrentaram retração de 0,52% no mês e queda de 4,41% no ano.
A mesma tendência se observa nos números relacionados ao acesso ao crédito. Para os consumidores com renda mais baixa, o indicador registrou um crescimento expressivo de 29,9% no último ano, mas apresentou uma leve queda de 0,3% no último mês, o que indica que o impacto dos juros elevados e do endividamento começa a limitar a concessão de crédito. Já entre os consumidores de maior renda, o acesso ao crédito permaneceu praticamente estável, com uma modesta alta de 0,9% no período analisado.
O índice geral permanece em 117,6 pontos, acima do patamar neutro de 100,indica que o clima de desânimo ainda não domina o cenário local. O setor varejista, no entanto, já percebe sinais claros de cautela. A demanda por consumo imediato permanece contida, o que obriga os comerciantes a investirem em abordagens mais estratégicas, como a definição precisa do público-alvo, a realização de promoções sazonais, o aumento da presença online e o controle rigoroso dos estoques, garantindo assim uma posição competitiva no mercado.