A cortina se abriu para o primeiro ato dos interrogatórios no inquérito da suposta tentativa de golpe de Estado, e o foco principal já se desenha: a credibilidade do tenente-coronel Mauro Cid. Após sua oitiva no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (9), a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) articulou sua estratégia em torno de uma forte acusação: Cid teria uma “memória seletiva”, com contradições que, segundo os advogados, podem desqualificar sua delação.
Celso Vilardi, um dos responsáveis pela defesa de Bolsonaro, foi incisivo ao fim da sessão. “Quando confrontado, ele diz que esqueceu. Assim é fácil delatar”, disparou Vilardi, apontando a fragilidade que a equipe jurídica buscará explorar nos próximos passos do processo.
A artilharia da defesa se concentrou em pontos específicos. Vilardi revelou ter questionado Mauro Cid sobre uma suposta reunião com empresários no Palácio da Alvorada. O advogado afirmou que Cid “inventou uma reunião”, demonstrando incapacidade de detalhar aspectos cruciais, como um documento pedido dias antes na casa do general Walter Braga Netto ou o contexto do encontro. “É o sétimo depoimento diferente, não tem um idêntico”, sublinhou Vilardi, reforçando a tese de inconstância nas declarações de Cid.
Apesar das críticas da defesa, o depoimento de Mauro Cid trouxe clareza em alguns pontos cruciais. O militar negou ter recebido ordens diretas de Bolsonaro para desmobilizar manifestantes após as eleições de 2022. Da mesma forma, Cid afirmou não ter percebido incentivos do ex-presidente para os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Contudo, um dos momentos mais aguardados do depoimento foi a confirmação de Cid sobre o recebimento e a modificação da “minuta do golpe” por Bolsonaro. Segundo o tenente-coronel, o ex-presidente teria “enxugado a minuta”, alterando o texto que inicialmente previa a prisão de diversas autoridades para focar a ação apenas no ministro do STF e relator do processo, Alexandre de Moraes. Este detalhe, confirmado por Cid, será central para o depoimento de Bolsonaro, previsto para ser retomado nesta terça-feira.
A sessão de interrogatórios, que incluirá outros seis réus de peso como Anderson Torres, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, continuará no STF.