Ao contrário do que muitos imaginam, nem toda ambulância precisa correr com sirene e luzes piscando. Em várias emergências, o que realmente protege o paciente é seguir com cautela, às vezes até sem usar o alarme sonoro.
Fraturas na coluna, por exemplo, exigem trajetos suaves, já que qualquer solavanco pode causar danos permanentes. Situações de choque emocional ou hipovolêmico seguem a mesma lógica: pressa e barulho excessivo podem agravar o estado do paciente, tornando a condução cuidadosa a escolha mais segura.
“Cada deslocamento é decidido pela equipe, conforme o risco clínico. A velocidade só faz sentido se for segura para o paciente”, diz Thiago Cordeiro, coordenador da Central de Regulação de Urgências da SMB Gestão em Saúde, operadora do SAMU em várias regiões do Paraná.
De acordo com Thiago, existem casos em que a resposta precisa ser rápida, mas sem o uso da sirene. Nesses momentos, apenas as luzes do giroflex permanecem acesas, sinalizando a presença da ambulância sem gerar estímulos sonoros que possam prejudicar o paciente.
Em situações de crises de pânico ou ansiedade intensa, a pressa pode ser prejudicial. Sirenes e luzes piscando tendem a agravar os sintomas, enquanto manter o ambiente mais silencioso ajuda a estabilizar o paciente. Há ainda casos em que estímulos externos funcionam como gatilhos diretos, como em situações de risco de convulsão, em que sons e luzes podem induzir uma crise.
Esses exemplos evidenciam que, em emergências, rapidez nem sempre significa segurança. Muitas vezes, o trajeto mais cauteloso, e mais lento, é o que garante melhor proteção ao paciente. Conforme explica Thiago Cordeiro, existe um manual de diretrizes que orienta o uso de sinais sonoros e luminosos, mas a decisão final depende da avaliação da equipe no momento da ocorrência.
Em situações de extrema gravidade, como paradas cardiorrespiratórias ou acidentes graves, a sirene e o giroflex se tornam ferramentas essenciais. O som estridente e as luzes piscantes avisam motoristas e pedestres, garantindo que a ambulância avance com rapidez, cada minuto sendo crucial para salvar vidas.
Por outro lado, em casos de violência, tentativas de suicídio ou atendimentos envolvendo saúde mental delicada, a estratégia muda. Nesses cenários, a prioridade passa a ser proteger a vítima, evitando exposição desnecessária e reduzindo a tensão tanto dentro quanto fora da ambulância.
Um outro ponto pouco conhecido é a distinção entre o trajeto de ida e o de retorno.“No deslocamento até o local, a decisão sobre o uso dos sinais depende da avaliação médica repassada à equipe. Já no retorno, a prioridade é o estado do paciente: algumas vezes, o silêncio e a cautela são fundamentais; em outras, a rapidez com sirene ligada é indispensável”, conclui Thiago.
Em deslocamentos que não envolvem emergência, como transferências agendadas, trajetos de retorno sem paciente ou conduções até a manutenção, não há necessidade de acionar sirene ou luzes.