Com a inflação dos alimentos pesando no bolso do trabalhador e pressões se acumulando por todos os lados, o governo Lula (PT) entrou em 2025 tentando manter o leme firme em águas agitadas. Uma das promessas para enfrentar a crise – a reformulação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), que envolve o vale-refeição (VR) e o vale-alimentação (VA) – foi empurrada para o fim de junho, após promessa inicial de entrega em maio.
A cautela do Palácio do Planalto revela o quanto o tema é sensível. Além de impactar diretamente o custo de vida da população, mexe com interesses de grandes empresas, redes do varejo e operadores de cartões-benefício. Qualquer movimento brusco pode desagradar um lado — ou todos.
“Seguramente, como já estamos nos últimos dias, confesso que não vamos ter condições de fechar dentro do mês de maio. Na minha opinião, não pode passar de junho”, admitiu o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ao comentar o adiamento da proposta.
Taxas altas e impacto no preço do almoço
O governo reconhece que o modelo atual dos vales contribui para encarecer as refeições fora de casa e a compra de alimentos básicos. Taxas cobradas por operadoras de VA e VR — que chegam a até 10% em alguns casos — acabam sendo repassadas ao consumidor, elevando os preços.
A ideia é simples: regulamentar o setor para reduzir essas cobranças e, assim, aliviar a inflação. Mas entre a teoria e a prática, há um caminho repleto de interesses corporativos.
Disputas nos bastidores
Entre os pontos ainda em discussão estão:
- Abertura do mercado de benefícios, permitindo maior concorrência entre operadoras;
- Criação de um teto para as taxas cobradas dos estabelecimentos, com proposta entre 3% e 4%;
- Encurtamento do prazo de repasse dos pagamentos às empresas, o que beneficiaria diretamente pequenos comércios.
O debate reúne pesos-pesados. De um lado, empresas tradicionais como Ticket, VR e Alelo. De outro, novas plataformas como iFood, Mercado Pago, Caju e Flash. Ainda há propostas mais ousadas, como a da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que sugeriu eliminar os cartões e depositar o valor diretamente na conta dos trabalhadores via Caixa Econômica — ideia que desagradou os intermediários do setor.
Trabalhador como moeda de troca
Enquanto o impasse se arrasta, são mais de 21,5 milhões de brasileiros que continuam pagando o preço da demora. A maioria recebe até cinco salários mínimos e depende do benefício para manter a alimentação da família.
O Programa de Alimentação do Trabalhador, que deveria garantir segurança nutricional, virou também um campo de disputa tecnológica e financeira. O governo pretende incluir diretrizes como portabilidade (o direito de o trabalhador escolher a operadora de seu cartão) e interoperabilidade (possibilidade de uso do benefício em qualquer maquininha), mas também essas propostas encontram resistência.
Navegação em águas turbulentas
A decisão do governo de adiar o anúncio mostra o peso político e econômico do tema. Em meio a críticas por falta de respostas mais imediatas à alta do custo de vida, a regulamentação do PAT poderia ser um alívio — ou um problema maior, se mal executada.
O governo Lula (PT) entrou em 2025 sob a sombra da inflação dos alimentos e logo prometeu a regulamentação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) como mecanismo para combater o problema.
A promessa está feita. O problema está posto. Agora, resta saber se o Planalto conseguirá, de fato, entregar uma solução que atenda ao trabalhador sem provocar tempestades em um mercado bilionário.