Um medicamento em fase de testes demonstrou capacidade de diminuir em até 60% os níveis de colesterol LDL, conhecido como colesterol ruim, podendo se transformar em uma opção alternativa aos tratamentos injetáveis atualmente disponíveis. Os dados do estudo clínico de fase 3 foram divulgados no último sábado (8) durante as Sessões Científicas 2025 da Associação Americana do Coração, em Nova Orleans, e publicados na revista JAMA Network.
O enlicitide, primeira medicação oral da categoria de inibidores da proteína PCSK9, apresentou eficácia comparável aos tratamentos injetáveis existentes no mercado. Atualmente, os inibidores de PCSK9 são administrados por via subcutânea e normalmente prescritos para pacientes que não atingem metas de colesterol com estatinas e modificações no estilo de vida.
A cardiologista Ann Marie Navar, autora principal da pesquisa e especialista do Centro Médico da Universidade do Texas Southwestern, declarou: “Este medicamento oral tem tudo para ser um poderoso complemento aos tratamentos atuais e, com sorte, prevenir eventos cardiovasculares”.
A pesquisa CORALreef Lipids acompanhou 2.912 adultos com histórico de problemas cardiovasculares ou elevado risco para essas condições. Após 24 semanas de tratamento, os participantes que utilizaram o comprimido registraram reduções médias de 60% no colesterol LDL, 53% no colesterol não-HDL e 50% na proteína ApoB, responsável pelo transporte de gordura e colesterol na circulação sanguínea.
Setenta por cento dos voluntários alcançaram redução de pelo menos 50% no LDL e atingiram níveis inferiores a 70 mg/dL, patamar considerado ideal para prevenção de complicações cardiovasculares. O perfil de segurança do medicamento foi similar ao do grupo que recebeu placebo, sem registro de aumento em efeitos adversos significativos.
Navar afirmou que os resultados com o uso diário de enlicitide foram “praticamente idênticos” aos observados com as terapias injetáveis e superiores aos de outro medicamento da mesma classe, o inclisiran, administrado por injeção a cada seis meses.
O mecanismo de ação do enlicitide consiste em bloquear a conexão da proteína PCSK9 com os receptores de LDL no fígado, potencializando a eliminação do colesterol ruim da corrente sanguínea. A administração por via oral pode representar uma alternativa mais acessível e conveniente para pacientes que necessitam de controle rigoroso do colesterol, mas preferem evitar aplicações injetáveis.
O estudo foi realizado em 168 centros de saúde distribuídos por 14 países entre agosto de 2023 e julho de 2025. Aproximadamente 97% dos participantes já utilizavam estatinas e 26% faziam uso de medicamentos adicionais para controle da absorção de colesterol.
Os pesquisadores aguardam agora os resultados do ensaio CORALreef Outcomes, que avaliará se a redução do colesterol obtida com o comprimido também se reflete em menor risco de infarto e acidente vascular cerebral. “Os resultados são promissores e indicam uma nova etapa no tratamento do colesterol alto, especialmente para quem não alcança o controle adequado com os métodos atuais”, afirmou Navar durante o congresso científico.













