Antes mesmo do anúncio oficial do Prêmio Nobel da Paz de 2025, surgiram especulações de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, poderia ser o agraciado. Esses rumores ganharam força especialmente após a recente aprovação de seu plano de cessar-fogo na Faixa de Gaza, que foi visto por aliados como um avanço diplomático relevante.
No entanto, o Comitê Norueguês do Nobel escolheu homenagear María Corina Machado, reconhecida liderança da oposição ao regime autoritário de Nicolás Maduro na Venezuela. O anúncio foi feito por Jørgen Watne Frydnes nesta sexta-feira (10/10), durante cerimônia no Instituto Norueguês do Nobel, em Oslo.
Durante seu discurso, Frydnes fez questão de explicar os critérios da escolha e por que Trump não foi contemplado. “Este comitê se reúne em uma sala cheia de retratos de todos os laureados, e essa sala está repleta de coragem e integridade. Portanto, baseamos nossa decisão apenas no trabalho e na vontade de Alfred Nobel”, afirmou, destacando o comprometimento com os princípios históricos do prêmio.
Em 30 de setembro, dias antes do anúncio oficial, Trump declarou publicamente que seria “um insulto” aos Estados Unidos caso ele não fosse premiado. A fala ocorreu durante um discurso feito a centenas de generais na Base do Corpo de Fuzileiros Navais de Quantico, na Virgínia.
Apesar da provocação, Trump tentou se descolar da narrativa pessoal ao afirmar: “Eu não quero isso, eu quero que o país o ganhe. Nós deveríamos ganhar.” Ainda assim, sua insistência em associar o prêmio ao seu legado dividiu opiniões e foi vista por críticos como mais uma estratégia de autopromoção.
Sete guerras
Donald Trump defendia que merecia o Prêmio Nobel da Paz por, segundo ele, ter proposto soluções para sete conflitos armados ao redor do mundo — guerras que estariam tirando “milhares de vidas”. O ex-presidente alegava que nenhum outro líder mundial, seja presidente ou primeiro-ministro, teria feito algo semelhante. Em suas críticas constantes à Organização das Nações Unidas (ONU), Trump afirmava que os líderes de países em guerra não recebiam sequer um telefonema da entidade internacional.
Apesar das alegações de Trump, especialistas lembram que o Comitê Norueguês do Nobel costuma basear suas decisões em critérios sólidos e históricos. O foco tradicional do prêmio está na promoção duradoura da paz, no fortalecimento da fraternidade entre as nações e no trabalho contínuo — muitas vezes silencioso — de organizações e pessoas comprometidas com esses ideais.
Em 2024, por exemplo, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido ao movimento japonês Nihon Hidankyo, formado por sobreviventes das bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki. O grupo atua há décadas na luta contra o uso de armas nucleares, reforçando o tabu global em torno desse tipo de armamento.
Vale lembrar que o Nobel da Paz é o único entre os prêmios da Fundação Nobel a ser entregue em Oslo, na Noruega. Os demais — Medicina, Física, Química e Literatura — já foram anunciados e entregues esta semana em Estocolmo, na Suécia. O Nobel de Economia será revelado na próxima segunda-feira. Todos os vencedores recebem 11 milhões de coroas suecas, o equivalente a cerca de R$ 6,2 milhões.