As novas regras anunciadas pelo governo federal sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) têm um alvo claro — e nada novo: a classe média. Em nome do equilíbrio fiscal, a equipe econômica do presidente Lula (PT) revelou nesta quinta-feira (22/5) um conjunto de alterações que incidem sobre crédito, câmbio e seguros. A promessa é arrecadar mais de R$ 60 bilhões em dois anos. Mas, na prática, o custo vai direto para quem já sente dificuldade para manter o orçamento sob controle.
Enquanto os holofotes se voltaram inicialmente para o recuo do governo em dois pontos do decreto — envolvendo remessas e fundos no exterior — o restante das medidas continua em vigor e atinge principalmente as famílias que fazem compras internacionais, pagam serviços digitais ou viajam para fora do país.
A mudança mais sensível atinge a alíquota de IOF sobre compras internacionais com cartão de crédito, débito e cartões pré-pagos. A taxa, que vinha em trajetória de redução progressiva desde 2022 e deveria chegar a zero até 2028, agora será aumentada de 3,38% para 3,5% em 2025.
Esse pequeno ajuste representa um retrocesso para a classe média, que havia começado a se beneficiar da queda gradual do imposto. Em vez de alívio, o consumidor verá um custo adicional a cada transação feita fora do país — um detalhe que pesa, especialmente em tempos de dólar instável.
Em um esforço de minimizar a reação negativa, o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, afirmou que o aumento do IOF em operações de câmbio “não fará diferença” na compra de mercadorias em sites estrangeiros. A frase, no entanto, contrasta com a realidade de quem depende dessas compras como alternativa de preço ou acesso a produtos indisponíveis no mercado nacional.
Embora as mudanças tenham como pano de fundo a necessidade de cumprir metas fiscais, o caminho escolhido reacende um padrão recorrente: o ajuste que recai sobre os mesmos de sempre. Sem grandes mecanismos de proteção ou isenção, a classe média volta a ser a principal fonte de arrecadação extra.
O pacote pode ser eficaz para fechar as contas do governo — mas fecha também, para muitos, as brechas do orçamento familiar.