A prevenção do HIV no Brasil ganhou uma nova ferramenta: o cabotegravir, injeção de longa duração disponível na rede privada. Comercializado sob o nome Apretude e aprovado pela Anvisa em 2023, o medicamento oferece uma alternativa ao regime diário de comprimidos da PrEP oral.
Indicado para pessoas em maior risco de infecção, como trabalhadores do sexo ou residentes de regiões com alta incidência do vírus, o fármaco promete simplificar a prevenção, reduzindo a necessidade de adesão diária e garantindo proteção contínua.
O Brasil registrou cerca de 46,5 mil novos casos de HIV em 2023, de acordo com dados do Ministério da Saúde, e projeções indicam que, até 2033, o total de diagnósticos pode atingir 600 mil. Pesquisas recentes, incluindo estudo publicado na revista Value in Health em dezembro de 2024, sugerem que a PrEP injetável poderia evitar aproximadamente 385 mil dessas infecções, não por apresentar maior eficácia que a fórmula oral, mas por facilitar a adesão ao tratamento.
Estudos realizados no país mostram que a modalidade injetável tem boa aceitação, especialmente entre os jovens. Entre participantes de 18 a 29 anos, 83% manifestaram preferência pelo cabotegravir, enquanto outro estudo com adolescentes de 15 a 19 anos apontou como principais motivos para a escolha da injeção a conveniência de não precisar tomar comprimidos diariamente e não ter que carregar a medicação. Entre usuários da PrEP oral, 14% optaram por migrar para a versão injetável.
O cabotegravir é indicado para adolescentes a partir de 12 anos e adultos que pesem pelo menos 35 kg, desde que testem negativo para HIV antes de iniciar o tratamento. O esquema de aplicação começa com duas doses mensais e, em seguida, segue com injeções bimestrais de 600 mg administradas por via intramuscular. A estratégia já é adotada em países como Estados Unidos, Quênia, Uganda, Zâmbia e Zimbábue.
Do ponto de vista farmacológico, o cabotegravir pertence à classe dos inibidores da integrase (INSTI), que impedem que o DNA do HIV se integre ao material genético das células do sistema imunológico, bloqueando uma etapa crucial da replicação viral e dificultando a evolução para infecção crônica. Vale destacar que HIV e AIDS não são a mesma coisa: o HIV é o vírus que causa a infecção, enquanto a AIDS é a doença decorrente de uma infecção prolongada e sem tratamento.
O infectologista Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), avalia que o cabotegravir marca uma transformação importante nas estratégias de prevenção do HIV. “Com doses a cada oito semanas, a PrEP injetável torna mais fácil manter o esquema completo, eliminando barreiras como estigma ou dificuldade de tomar medicação diária. Isso é especialmente relevante para pessoas jovens, trabalhadores do sexo, pessoas em situação de rua, migrantes ou mulheres cis que enfrentam barreiras culturais e sociais para usar a medicação diária”, explica Barbosa.
Embora o cabotegravir ainda não esteja disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), há iniciativas em andamento para levar o medicamento à rede pública. Rodrigo Zilli, infectologista e diretor médico da GSK/ViiV Healthcare, empresa responsável pela produção do fármaco, destaca que a companhia mantém conversas com autoridades para viabilizar a oferta da PrEP injetável no SUS.








 
			 
			




