A partir desta sexta-feira (1º), o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) determina que o teor de etanol na gasolina comum produzida no Brasil aumente de 27,5% para 30%. Com essa mudança, espera-se uma redução de cerca de R$ 0,11 no preço por litro nos postos, graças à introdução da chamada gasolina E30.
O combustível produzido em julho, contendo 27% de etanol anidro, ainda será distribuído aos postos durante os primeiros dias de agosto. Por isso, os motoristas só devem começar a encontrar a nova mistura nas bombas nas semanas seguintes.
O governo federal também aprovou o aumento da octanagem da gasolina comum, que passa de 93 para 94 RON, para acompanhar a elevação do teor de etanol na mistura. Esse índice indica a resistência do combustível à detonação; quanto maior o valor, mais eficiente.
A gasolina premium, presente em marcas como Podium e V-Power Racing, mantém o índice de octanagem em 95 RON e contém 25% de etanol anidro. A partir de 1º de agosto, essas serão algumas das mudanças no combustível:

Nos últimos meses, um grupo técnico composto pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e por empresas especializadas em pesquisa e tecnologia, realizou os estudos que levaram à aprovação da gasolina E30.
O Instituto Mauá liderou os testes da gasolina E30 e compartilhou detalhes do processo de avaliação dos veículos no podcast CBN Autoesporte. A iniciativa contou ainda com o acompanhamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo).
Impactos da gasolina E30 no desempenho do veículo
Com a nova mistura de etanol na gasolina, os carros flex devem apresentar aumento no consumo. Isso ocorre porque o etanol possui menor poder calorífico, ou seja, libera menos energia por litro ao ser completamente queimado. Esse índice, no caso do derivado da cana-de-açúcar, representa cerca de 70% do valor energético da gasolina.
Segundo Rogério Gonçalves, diretor de combustíveis da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), e Clayton Barcelos Zabeu, professor e pesquisador do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), esse desequilíbrio energético explica por que o consumo tende a crescer com a chegada da nova gasolina, mais rica em etanol.
Um fator que pode ajudar a equilibrar a redução no poder calorífico da nova gasolina é o aumento da octanagem, que tende a melhorar a eficiência do motor mesmo com maior presença de etanol.“Elevar a gasolina comum de 93 para 94 RON será muito positivo para os carros flex. Como possuem um mapeamento eletrônico mais flexível para funcionar tanto com etanol quanto gasolina, ganhar um ponto percentual fará o motor operar melhor”, explica o diretor de combustíveis da AEA.
“Os motores modernos têm recursos eletrônicos que operam com uma taxa de compressão intermediária para funcionar com etanol e gasolina ao mesmo tempo. Ao detectar um combustível de maior octanagem, o sistema [de gerenciamento eletrônico] poderá se ajustar automaticamente e fazer com que o motor funcione a uma taxa de compressão mais favorável”, destaca Gonçalves.
O desempenho do veículo pode apresentar uma leve melhora graças à octanagem mais elevada proporcionada pela maior concentração de etanol na nova mistura. “Em alguns casos, o motor operando com etanol pode proporcionar potência máxima levemente maior do que com gasolina. É possível observar um crescimento de cerca de 1% a 2% de potência com o uso do etanol”, diz Clayton Barcelos, do Instituto Mauá.