Após anos de embates com o Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) adotou um tom menos combativo em entrevista concedida nesta quarta-feira (14), ao afirmar que não deseja contribuir para o desgaste da Corte. Ainda assim, deixou claro que, caso seja condenado no processo sobre a tentativa de golpe em 2022, sua trajetória política estará encerrada. “Se eu for condenado, pronto, acabou, é ‘game over’. Vamos ver como vai ser, se vai ter reação da população”, disse ao UOL.
Apesar do histórico de críticas e acusações ao Supremo, Bolsonaro tentou demonstrar um discurso mais cauteloso. “Não fico feliz em desgastar o Supremo. Se fazem pesquisa sobre a popularidade do Supremo, está abaixo do Legislativo, quem diria. Não entendo por que essa perseguição brutal em cima de mim”, declarou.
A fala ocorre em meio ao avanço do processo no STF que o tornou réu, ao lado de outros aliados, por suspeita de participação no núcleo central de articulação do golpe de 2022. A denúncia, apresentada pela Procuradoria-Geral da República, foi aceita por unanimidade pelos ministros da Primeira Turma da Corte. O julgamento definitivo pode ocorrer ainda este ano.
Mesmo sob pressão, Bolsonaro evitou falar em sucessão. Elogiou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, mas não apontou nenhum nome como eventual substituto político. Questionado sobre a preparação do seu grupo para as eleições de 2026, desconversou.
O ex-presidente também comentou sobre o general Mário Fernandes, preso por envolvimento em um plano para assassinar autoridades como Lula, Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaro classificou a visita do militar ao Palácio da Alvorada como um gesto de solidariedade e minimizou as acusações: “Isso poderia ser roteiro de novela, filme, algo qualquer”.
Outro ponto sensível foi a delação de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. Sem negar as informações reveladas, Bolsonaro alegou que Cid teria sido submetido a pressão extrema para colaborar. “Delação subentende espontaneidade, verdade e prova. Deixou de existir na delação do Cid. Ele foi torturado, não vou falar que ele mentiu”, afirmou, usando a expressão “pau de arara do século 21” para se referir ao tratamento dado ao ex-auxiliar.
A entrevista foi concedida em meio a um novo atrito entre o Congresso e o STF, após decisão da Corte que contrariou interesses de parlamentares aliados de Bolsonaro. Em resposta, líderes na Câmara defendem avançar com propostas para limitar os poderes dos ministros do Supremo — o que aprofunda a tensão institucional entre os Poderes.
Embora tente adotar um discurso mais moderado, Bolsonaro sabe que a possível condenação no STF pode decretar seu afastamento definitivo da política. E, nas suas próprias palavras, se isso acontecer, “é game over”.