O alcoolismo, também chamado de transtorno por uso de álcool, ainda representa um grave problema de saúde pública no Brasil. De acordo com a sétima edição do anuário “Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2025”, elaborado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), a partir de dados do Datasus e do IBGE, a dependência da substância é responsável por 10,5% das mortes ligadas ao consumo de álcool no país — o que equivale a 21 vítimas fatais por dia.
O levantamento mostra que, entre 2022 e 2023, houve aumento de 2,8% nas internações hospitalares por alcoolismo, o que corresponde a quatro novas hospitalizações por hora. Ao mesmo tempo, o número de óbitos caiu 9,2% no mesmo período, tendência registrada pelo segundo ano consecutivo após o pico durante a pandemia de covid-19.
Segundo o psiquiatra e presidente do CISA, Arthur Guerra, apesar da queda, o país ainda não retornou aos índices de mortalidade anteriores à pandemia.
Estados com maiores índices
A taxa nacional de óbitos por alcoolismo é de 3,6 a cada 100 mil habitantes. No entanto, onze estados superam essa média, com destaque para Piauí, Bahia, Espírito Santo e Tocantins.
No caso das internações, cuja média nacional é de 19,3 por 100 mil habitantes, oito estados aparecem acima do índice — entre eles Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, que lideram o ranking.
Perfil das vítimas
- Homens: concentram a maior parte dos óbitos (90,9%) e tiveram aumento de 10,1% nas mortes entre 2010 e 2023.
- Mulheres: registraram queda de 2,5% nas mortes no mesmo período, mas cresceram em participação nas internações, passando de 9,9% em 2010 para 13,6% em 2023.
- Faixa etária: 51,3% das mortes ocorrem entre pessoas com mais de 55 anos, enquanto a maioria das internações (57,4%) envolve adultos de 35 a 54 anos.
Por que morre-se menos, mas interna-se mais?
De acordo com a socióloga e coordenadora do CISA, Mariana Thibes, a queda no número de mortes, aliada ao aumento das internações, pode estar ligada ao melhor acesso aos serviços de saúde, ao diagnóstico precoce e a tratamentos mais eficazes, capazes de evitar a progressão da doença para casos fatais.
Ela explica que os efeitos do consumo nocivo de álcool variam conforme o tempo de uso:
- Curto prazo: acidentes de trânsito e episódios de violência, que vitimam principalmente pessoas com menos de 35 anos.
- Longo prazo: problemas crônicos decorrentes de anos de uso, como doenças agravadas por comorbidades (hipertensão e diabetes), mais comuns após os 55 anos.
“Além disso, o álcool muitas vezes é usado como uma forma equivocada de lidar com dificuldades da vida quando não há apoio adequado, e isso pode acontecer em qualquer idade”, afirma Thibes.