Uma família de Feira Grande, no Agreste de Alagoas, luta para localizar uma mulher trocada na maternidade em 1970. O caso, que veio à tona após histórias semelhantes na região, como a dos gêmeos Gabriel e Bernardo, separados ao nascer, ocorreu no Hospital Regional de Arapiraca, e permanece sem desfecho até hoje.
Os familiares relataram que o episódio aconteceu no dia 7 de agosto de 1970, durante uma reforma no hospital. Segundo Patrícia Bispo, irmã da filha trocada, Sandra Bispo, a mãe percebeu a troca logo após o parto devido às características físicas da criança. Enquanto Sandra, que foi criada pela família, era morena e aparentava ser mais velha, a filha biológica era descrita como “gordinha e branquinha”, semelhante aos outros membros da família.
“Quando a minha mãe foi ter bebê, teve uma reforma no hospital. No outro dia, ia tirar os pacientes do quarto e realocar para outra sala, em outro quarto, alguma coisa sobre uma inauguração do governador”, explicou.
Segundo ela, a mãe percebeu naquele momento que houve a confusão. “Ela percebeu na hora, porque a menina era gordinha, branquinha, como a família toda. Já a outra que veio era moreninha e ela achava que era mais velha, não era nascida daqueles dias, já tinha mais tempo”, relatou.
A troca na maternidade impactou também o pai da família, que lidou com o receio de julgamentos. “Muitas vezes o papai se escondia porque dizia ‘será que vão pensar que não é minha? Ou que você roubou com alguém?’ Nós sabíamos a história todinha do hospital. Meu tio foi no hospital e foi falar com o diretor. Eu fui olhar e pedi a ficha de todas as mulheres que tiveram menina por aqueles dias, aí o diretor disse que não dava a ficha porque a gente ia procurar, gastar muito, não ia encontrar, o hospital ficaria desmoralizado e teria que demitir muitos funcionários”, contou Maria Bispo, outra irmã de Sandra.
A tentativa de obter informações no hospital foi frustrada, com o diretor da unidade se recusando a entregar as fichas das mulheres que deram à luz na mesma época, alegando que isso desmoralizaria a instituição.
Sandra, que sabia da história desde cedo, viveu com essa realidade até falecer há cinco anos devido a problemas de saúde. Seus filhos também conhecem os detalhes do caso. “Ela lidava bem com isso, mas sempre quis saber quem era a verdadeira irmã”, ressaltou Patrícia.
A família chegou a localizar uma possível irmã biológica de Sandra, nascida no mesmo período. Contudo, dificuldades para realizar o exame de DNA impediram que o caso fosse esclarecido. Até hoje, a busca pela filha biológica da matriarca segue sem solução, mantendo viva a esperança de um reencontro.
“Esse é o maior sonho da minha mãe. Ela tem 90 anos, mas nunca perdeu a fé de encontrar sua filha verdadeira”, finalizou Patrícia.