Neste 27 de outubro, o criador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa, celebra 90 anos de vida cercado por homenagens. O desenhista, responsável por dar vida à turminha mais famosa do Brasil, é o foco de uma série de celebrações que incluem um filme sobre sua trajetória e um livro com tributos de 90 quadrinistas. O “menino que nunca parou de desenhar” chega à nova idade sendo reverenciado por gerações que cresceram com suas histórias.
Depois de encantar crianças e adultos por décadas, é a vez de a própria história de Mauricio ganhar os holofotes. Sua trajetória inspiradora será contada tanto nas telas de cinema quanto nas páginas de livros e revistas espalhadas por todo o país, celebrando o legado de um artista que transformou o universo dos quadrinhos brasileiros.
A principal homenagem é a cinebiografia “Mauricio de Sousa – O Filme”, exibida em uma sessão especial na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo na semana passada. A produção retrata as origens do autor, seu processo criativo e o nascimento dos icônicos personagens como Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali. No longa, Mauricio é interpretado por seu filho, Mauro Sousa, tornando a homenagem ainda mais afetiva e simbólica.
“No mês de aniversário de 90 anos do meu pai, não só ele, mas eu e todos os brasileiros vamos ter esse presente, que é um filme em sua homenagem, contando uma parte ali de sua história. Tive essa honra de interpretá-lo nos cinemas. É minha estreia nos cinemas, então esse é mais um motivo para ser realmente um momento bastante especial para a gente, principalmente para mim”, contou Mauro, em entrevista ao programa Caminhos da Reportagem, que será exibido nesta segunda-feira (27) pela TV Brasil.
“Eu diria que esta foi, com certeza, a experiência mais intensa, emocionante e inesquecível da minha vida. E desafiadora também, afinal de contas estou interpretando meu pai no cinema, que é um ícone, um patrimônio cultural brasileiro e, ao mesmo tempo, um pai, um artista e um empresário”, afirmou.
Além da estreia do novo filme, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo homenageou Mauricio de Sousa com o prêmio Leon Cakoff, em reconhecimento à sua trajetória e em celebração aos seus 90 anos. O evento também exibiu três produções inspiradas na Turma do Limoeiro, dentro da programação infantil: Turma da Mônica: Laços, Turma da Mônica: Lições e Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa, reafirmando a importância cultural das criações do cartunista.
Como parte das celebrações, o jornalista Sidney Gusman, editor do site UniversoHQ e da MSP Estúdios, anunciou o lançamento de um livro-coletânea intitulado MSP90. A publicação, já disponível nas livrarias, reúne o trabalho de 90 quadrinistas de diferentes partes do Brasil, que se uniram para prestar uma grande homenagem ao mestre dos quadrinhos nacionais.
“Resolvi fazer um livro com 90 autores. Saiu agora em outubro, para o aniversário dele. São 90 autores e autoras do Brasil inteiro, fazendo histórias, cada um, de três páginas”, explicou ele ao programa Caminhos da Reportagem. ”São autores de todos os gêneros que você imaginar e que fazem quadros de tira, de humor, de terror. Então, acho que esse é o troféu que ele vai carregar para sempre, o legado que ele trouxe não só no apoio à leitura, mas também para a formação de tantos quadrinistas no Brasil”.
Entre os artistas convidados para participar da coletânea MSP90 está a quadrinista e ilustradora Helô D’Angelo, que destacou a importância de Mauricio de Sousa em sua trajetória profissional. “Como sempre quis trabalhar com quadrinhos, eu acho que o Mauricio de Sousa era um horizonte para mim, que era a única pessoa que eu sabia que fazia quadrinhos que não eram de super-heróis”, afirmou em entrevista ao programa da TV Brasil.
Para a homenagem, Helô escolheu um personagem pouco convencional do universo da Turma da Mônica: Dona Pedra. A escolha reflete seu desejo de explorar figuras menos conhecidas das histórias criadas por Mauricio, destacando o alcance e a diversidade do universo construído pelo cartunista ao longo de nove décadas de carreira.
“Se vocês lerem as historinhas do Bidu, muitas vezes vocês verão o Bidu conversando com uma pedra. É uma coisa meio filosófica. Mas, na minha história, a Dona Pedra, apesar de ser a protagonista, será mais um fio condutor. Coloquei a Pedra porque ela é uma das poucas coisas fixas na nossa vida. E aí pude desenhar vários personagens da Turma da Mônica interagindo com ela”, explicou. “Queria fazer uma coisa que não fosse tão confortável para mim, sabe, e que não fosse algo que as pessoas estivessem esperando no meu trabalho. Queria algo que desse para eu explorar o máximo de situações e personagens diferentes, brincar mesmo”, declarou.
Para Helô D’Angelo, fazer parte do MSP90 — que chega ainda mais diverso nesta edição — representa uma grande conquista pessoal e profissional. A quadrinista destacou a importância da pluralidade na cena dos quadrinhos brasileiros. “A cena dos quadrinhos nacional é muito diversa e isso já vem de um tempo. Mas, historicamente, a gente teve um apagamento dessa diversidade, não só nos quadrinhos, mas em todas as áreas, principalmente dentro das artes. Por isso a importância dessa diversidade estar presente no MSP é imensa, porque você vai trazer artistas de diversas origens geográficas, sociais, de gêneros diferentes, para trazer visões diferentes sobre os personagens [do Mauricio]”, afirmou.
Helô também ressaltou que essa valorização da diversidade sempre esteve presente na obra de Mauricio de Sousa. Segundo ela, o criador da Turma da Mônica rompeu padrões ao representar meninas fortes e independentes. “A Mônica é uma menina super forte, a mais forte do mundo, a mais forte da rua. Ela é a dona da rua, que batia nos meninos. Até a criação da Mônica, a gente não tinha uma representação de uma menina assim”, destacou. Ela lembrou ainda personagens como Pipa, amiga da Tina, uma das poucas personagens gordas dos quadrinhos, cuja característica física não é o foco das histórias, o que considera revolucionário.
Como parte das homenagens pelos 90 anos do artista, a TV Brasil exibe nesta segunda-feira (27), às 23h, o programa Caminhos da Reportagem, intitulado “Mauricio 90: Desenhando o Brasil”, que celebra o legado e a influência do criador da Turma da Mônica na cultura nacional.













