Uma aquisição recente da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) gerou controvérsia ao expor tensões entre o uso de recursos públicos, a valorização cultural e possíveis associações ideológicas. A corporação comprou, sem licitação, duas obras de “arte de trincheira” por R$ 18,6 mil, destinadas à Academia de Polícia Militar de Brasília (APMB) e à Banda de Música da instituição.
A decisão chama atenção em meio a um cenário de restrições orçamentárias e discussões sobre prioridades na segurança pública. O ato foi autorizado pelo chefe do Departamento de Logística e Finanças e ordenador de despesas substituto da PMDF, Marcos Xavier da Silva. No documento, a compra é justificada como uma medida voltada ao “fortalecimento da identidade institucional e à valorização do patrimônio histórico-cultural” da academia.
As peças foram encomendadas diretamente ao artista Rodrigo Gonçalves Camacho, conhecido nacionalmente por produzir esculturas feitas com cartuchos de munição e por homenagear o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em diversas obras.
Segundo o ato publicado, a contratação ocorreu por inexigibilidade de licitação, conforme previsto na Lei nº 14.133/2021 — a nova Lei de Licitações e Contratos. Essa modalidade é aplicada quando há inviabilidade de competição, como em casos de artistas ou profissionais de notório reconhecimento.
Apesar da justificativa formal, o documento não apresenta detalhes sobre o processo de escolha do artista nem especificações sobre as obras adquiridas, limitando-se a mencionar que são criações no estilo “arte de trincheira”.
A compra reacendeu o debate sobre a fronteira entre arte e ideologia e sobre até que ponto o investimento público em obras simbólicas se alinha às prioridades institucionais da segurança pública.