Em entrevista concedida à Rede Record nesta quinta-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elevou o tom contra Donald Trump e traçou um paralelo direto entre o ex-presidente dos Estados Unidos e Jair Bolsonaro. Lula sugeriu que, se os atos protagonizados por Trump na invasão do Capitólio, em 2021, tivessem ocorrido em solo brasileiro, o norte-americano estaria enfrentando o mesmo cerco judicial que o ex-mandatário brasileiro sofre atualmente.
“Se o que o Trump fez no Capitólio tivesse feito aqui no Brasil, ele estaria sendo processado como Bolsonaro e estaria arriscado a ser preso, porque feriu a democracia, porque feriu a Constituição”, afirmou Lula. “Eu não me meto no poder Judiciário, porque aqui o poder Judiciário é autônomo, sobretudo a Suprema Corte.”
A fala de Lula se insere em um contexto mais amplo de tensões diplomáticas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Trump, que está novamente em campanha e busca reconquistar a presidência americana, anunciou recentemente uma tarifa de 50% sobre exportações brasileiras para os EUA. O gesto foi interpretado por Lula como uma provocação política e econômica, especialmente após o republicano criticar o tratamento dado a Jair Bolsonaro pela Justiça brasileira.
Tensão comercial e resposta diplomática
Lula reagiu à imposição tarifária afirmando que o Brasil tentará primeiro uma saída diplomática. Caso não haja acordo, o governo brasileiro promete retaliações com base na Lei da Reciprocidade.
“Primeiro, nós vamos tentar negociar, mas se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele”, garantiu.
O presidente brasileiro também desmentiu declarações de Trump sobre um suposto déficit comercial dos EUA em relação ao Brasil. Segundo Lula, os dados mostram o contrário:
“Ele acha que os Estados Unidos têm déficit com o Brasil. Não é verdade. Se você pegar o ano passado, nós exportamos 40 bilhões e depois importamos 47 [bilhões]. Foi um déficit de 7 bilhões. Mas se você pegar nos últimos 15 anos, importação e serviços, nós temos um déficit de 410 bilhões de dólares em 15 anos”, afirmou.
Lula também acusou Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, de ter influenciado a postura de Trump contra o Brasil. Segundo o petista, há uma tentativa deliberada de transformar questões diplomáticas e econômicas em disputa ideológica e eleitoral.
Comitê de resposta e defesa do setor produtivo
Diante do cenário, Lula anunciou a criação de um comitê para reavaliar as relações comerciais com os Estados Unidos. A medida será coordenada com o Itamaraty e deverá focar na proteção do setor produtivo brasileiro diante de ameaças de retaliações comerciais.
Recado direto
Ao final da entrevista, Lula adotou um tom direto ao se referir a Trump, com um apelo à soberania e ao respeito mútuo entre as nações:
“Eu quero que o Trump cuide dos Estados Unidos para os americanos. Eu quero que os americanos melhorem de vida. Quero que o americano viva democraticamente. Só peço que respeite o direito do brasileiro também viver. Do jeito que você gosta do povo americano, eu gosto do povo brasileiro. Na minha vida, quem decide as coisas é o povo. Eu sou brasileiro, gosto do Brasil e não desisto nunca.”
A fala do presidente marca mais um capítulo da crescente tensão entre os dois países, num momento em que as eleições presidenciais dos EUA se aproximam e reverberam globalmente. Enquanto isso, Lula sinaliza que não pretende recuar diante das ameaças — nem no campo político, nem no econômico.