Num movimento que reacende tensões entre lideranças da direita internacional e governos progressistas da América Latina, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, saiu publicamente em defesa de Jair Bolsonaro (PL) e aproveitou a ocasião para lançar críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao bloco dos Brics.
A declaração foi publicada na rede Truth Social, plataforma mantida por Trump, e marca a primeira manifestação direta do ex-presidente norte-americano sobre a situação judicial de Bolsonaro desde o início de seu segundo mandato à frente do Partido Republicano.
Trump minimizou as acusações que pesam contra o ex-mandatário brasileiro e usou sua conhecida retórica de enfrentamento para acusar as autoridades brasileiras de perseguirem politicamente o ex-presidente.
“Estarei assistindo à caça às bruxas de Jair Bolsonaro, sua família e milhares de seus apoiadores, muito de perto. O único julgamento que deveria estar acontecendo é um julgamento pelos eleitores do Brasil — chama-se eleição. Deixe Bolsonaro em paz!”, escreveu Trump.
A fala ecoa argumentos frequentemente usados por apoiadores de Bolsonaro no Brasil, que alegam haver perseguição judicial contra o ex-presidente. A manifestação pública de Trump ocorre em um momento em que aliados de Bolsonaro vinham cobrando há meses uma declaração de apoio mais contundente do ex-presidente norte-americano.
Apesar do tom de defesa, a realidade jurídica de Bolsonaro no Brasil é distinta da apresentada por Trump. O ex-presidente é alvo de uma investigação conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que analisa sua suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado após o resultado das eleições de 2022, vencidas por Lula.
Ao todo, 31 dos 34 envolvidos denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) se tornaram réus no processo, que investiga a articulação e execução dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas em Brasília.
Uma aliança de conveniências
A declaração de Trump também teve espaço para alfinetadas a Lula e aos Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que nos últimos anos tem buscado protagonismo em contraponto à hegemonia do Ocidente. A crítica se insere em uma lógica já conhecida da política externa trumpista, que vê com desconfiança qualquer articulação internacional que fuja à influência direta dos Estados Unidos.
Com essa fala, Trump não apenas reforça sua aproximação com Bolsonaro, mas também tenta se recolocar como um líder simbólico da direita global, ao mesmo tempo em que pressiona adversários políticos internacionais e domésticos.
Analistas políticos veem o gesto como parte da estratégia de Trump de consolidar alianças internacionais ideologicamente alinhadas, especialmente em ano eleitoral nos EUA, em que o ex-presidente tenta retomar a Casa Branca.
O impacto no cenário brasileiro
Internamente, a fala de Trump deve ser usada por aliados de Bolsonaro como reforço na narrativa de que o ex-presidente é vítima de perseguição política. Por outro lado, especialistas jurídicos alertam que declarações estrangeiras não têm qualquer impacto no andamento dos processos no STF, que seguem baseados em provas e investigações conduzidas por instituições brasileiras.
A repercussão do apoio de Trump evidencia, mais uma vez, como a polarização brasileira segue atravessando fronteiras e influenciando o discurso político internacional.