Sob forte desgaste público nas redes sociais, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), decidiu reagir colocando em pauta um tema explosivo: a anistia para os envolvidos nos ataques golpistas de 8 de Janeiro. Desde que o Supremo Tribunal Federal anulou o aumento do IOF e derrubou a decisão da Câmara contra o decreto do governo, Motta se tornou alvo de ataques online que o apelidaram de “inimigo do povo” — rótulo que ele atribui ao governo federal.
Irritado com a campanha digital, Motta se aproximou de parlamentares bolsonaristas e começou a articular a votação do projeto de anistia ainda este mês. A expectativa é discutir a proposta já na segunda-feira (7), em reunião com representantes da oposição, segundo informações do site ISL Notícias. O projeto pretende aliviar as penas impostas pelo STF a quem participou das invasões e depredações dos prédios dos Três Poderes, mas mantendo algum grau de responsabilização.
Aliados do deputado alertam que avançar com a anistia pode aumentar o atrito com o ministro Alexandre de Moraes e reacender a mobilização contrária nas redes. No entanto, Motta acredita que pautar o tema pode consolidar apoio entre bolsonaristas e pressionar o governo, que enfrenta resistência para sustar o desgaste de sua base no Congresso.
Entre parlamentares de esquerda, a movimentação de Motta foi recebida como um grave sinal de incentivo à impunidade. Para eles, anistiar golpistas representaria um retrocesso democrático. “É preciso continuar e ampliar a mobilização de rua e de rede. Pressão política em cima do Congresso”, afirmou o deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ). “Taxar os super-ricos não pode, aumentar o número de deputados, pode. Anistia para golpistas, pode também. Isso é o retrato daquilo que mantém esse país injusto, desigual, protegendo bilionários e sacrificando o povo”.
Deputados próximos a Motta dizem que ele trabalha em um texto alternativo para amenizar a punição dos envolvidos, mas sem livrá-los totalmente, o que poderia atrair parlamentares que rejeitam uma anistia geral e irrestrita. Essa estratégia busca costurar um “meio-termo” que, segundo apoiadores, evitaria um confronto direto com o Judiciário.
Enquanto isso, a pressão digital segue intensa: apenas nas últimas semanas, Hugo Motta acumulou mais de 1 milhão de menções nas redes sociais — número que representa quase 30% de tudo o que foi dito sobre ele em 2025, de acordo com a consultoria Bites. As críticas, impulsionadas pela esquerda, ganharam força após a narrativa de que Lula estaria defendendo os pobres e o Congresso, os interesses dos ricos.
Com a crise ainda em ebulição, a proposta de anistia promete ser o próximo grande teste para a relação entre Câmara, governo e STF — e pode definir se a pressão sobre Hugo Motta vai diminuir ou se tornará ainda mais intensa.