A morte do cavalo mangalarga marchador Quantum de Alcatéia, avaliado em cerca de R$ 12 milhões, acendeu um alerta entre criadores de elite em todo o país. O animal, considerado um dos mais valiosos do Brasil, morreu na última semana, supostamente intoxicado após consumir ração produzida pela Nutratta Nutrição Animal, cuja fábrica fica em Itumbiara, Goiás.
De acordo com a advogada Maria Alessandra Agarussi, que representa dezenas de criadores afetados, já são estimadas 657 mortes de cavalos em diferentes estados, incluindo São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Alagoas, Bahia e Rio Grande do Norte. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que investiga o caso, confirmou 220 óbitos até o momento e chegou a suspender a comercialização do produto Foragge Horse, da linha de nutrição equina da empresa.
“Alguns cavalos, inclusive, eram utilizados como terapias. Há pessoas em depressão. A situação não é mero aborrecimento”, enfatizou Maria Alessandra. As ações judiciais em andamento cobram indenizações que somam valores milionários, incluindo despesas veterinárias, danos morais e lucros cessantes que, apenas no caso de Quantum, podem chegar a R$ 30 milhões.
Os sintomas relatados pelos criadores incluem desorientação, alterações de comportamento, perda de apetite, dificuldade de locomoção e prostração. O criador goiano Weder Silva, por exemplo, perdeu três cavalos e tem outros três em estado crítico. “Prejuízo muito grande. Nem sei como te falar o tamanho do problema que essa empresa está causando em Goiás e no Brasil inteiro. Uma tragédia”, relatou.
Em nota, a Nutratta lamentou os relatos de intoxicação, disse colaborar integralmente com o Mapa e afirmou que análises preliminares identificaram a presença de monocrotalina — toxina produzida por plantas do gênero crotalária — como possível causa da contaminação das matérias-primas vegetais. A empresa também informou ter reforçado controles internos e obtido liminar para seguir produzindo rações não destinadas a cavalos.
“A Nutratta lamenta profundamente os relatos de intoxicação e óbitos de animais associados ao produto Foragge Horse (…) e reforça que está colaborando integralmente com o Ministério da Agricultura e Pecuária para elucidar os fatos”, diz o comunicado oficial.
Enquanto as investigações avançam, criadores organizados em grupos como o “Vítimas do Caso Nutratta”, com mais de 400 participantes, relatam prejuízos que vão de animais de alta performance a cavalos usados em terapias, levantando preocupação sobre o impacto social e econômico do caso.