Durante uma sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (22), o ministro Flávio Dino usou parte de seu tempo de fala não apenas para votar, mas para fazer um contundente alerta: o avanço do discurso de ódio nas redes sociais.
Enquanto analisava ações envolvendo tribunais de contas estaduais, Dino leu em plenário uma mensagem agressiva recebida via ouvidoria da Corte. O conteúdo, carregado de insultos, terminava com um apelido inusitado: “rocambole do inferno”.
Ao expor a mensagem – que também continha ameaças físicas e ataques à sua trajetória política – o ministro não apenas se posicionou de forma firme, como também ironizou o absurdo da agressão:
“Vou perguntar para minha esposa o que ela acha, e ela vai dizer: ‘Você é meu rocambole, não do inferno’”, disse, arrancando risos em meio ao ambiente institucional.
Apesar do tom leve da resposta, Dino foi enfático ao denunciar a banalização da violência verbal:
“O espírito do tempo é de cultivo de ódios e desvarios, numa escala criminosa, delituosa. Porque isso ganha materialidade. As caixas de comentários das redes sociais ganham densidade quando elas penetram na mente humana e se transformam de força material.”
A fala evidencia uma preocupação que vai além do caso pessoal: o modo como palavras hostis e ameaças virtuais estão se normalizando no debate público. Para Dino, esse tipo de comportamento não pode ser ignorado, especialmente quando se converte em ações reais — como já se viu em episódios de violência política nos últimos anos.
O episódio, ainda que pontual, reacende a discussão sobre os limites da liberdade de expressão e a urgência de responsabilização por discursos de ódio que, cada vez mais, atravessam a fronteira do digital para afetar vidas reais.