Após reunião com o presidente Xi Jinping em Pequim nesta terça-feira (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a parceria entre Brasil e China “nunca foi tão essencial”.
“Há anos, a ordem internacional já demanda reformas profundas. Nos últimos meses, o mundo se tornou mais imprevisível, mais instável e mais fragmentados. China e Brasil estão determinados a unir suas vozes contra o unilateralismo e o protecionismo”, disse Lula.
“Guerras comerciais não têm vencedores. Elas elevam os preços, deprimem as economias e corroem a renda dos mais vulneráveis em todos os países. O presidente Xi Jinping e eu defendemos um comércio justo e baseado nas regras da Organização Mundial do Comércio”, disse Lula.
As declarações contra a guerra comercial surgem um dia após os Estados Unidos e a China anunciarem uma pausa de 90 dias nas tarifas e sobretaxas implementadas pelo governo Donald Trump, e retaliadas por Xi Jinping.
O Brasil também busca negociar a redução ou eliminação de tarifas adicionais impostas pelo governo Trump, especialmente nas exportações de aço e alumínio. ‘Não é exagero dizer que, apesar dos mais de 15 mil quilômetros que nos separam, nunca estivemos tão próximos’, afirmou Lula sobre a relação com a China.
Lula e Xi Jinping se encontraram pela terceira vez desde o início do mandato do presidente brasileiro em 2023, sendo este o segundo encontro em solo chinês.
Antes de Lula, Xi Jinping ressaltou a importância estratégica da relação bilateral, criticou as guerras comerciais e afirmou que China e Brasil defendem o livre comércio e o sistema multilateral.
Xi também mencionou o apoio dos dois países à mediação de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, embora a proposta ainda não tenha sido implementada. A Rússia expressou interesse em retomar as negociações na Turquia.”
Críticas às guerras
Lula usou o discurso ao lado de Xi Jinping para reiterar as críticas que vem fazendo às guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza.
“Superar a insensatez dos conflitos armados também é pre-condição para o desenvolvimento. Os entendimentos comuns entre Brasil e China para uma resolução política para crise na Ucrânia oferecem base para um diálogo abrangente que permita o retorno da paz à Europa”, disse.
“A humanidade se apequena diante das atrocidades cometidas em Gaza. Não haverá paz sem um Estado da Palestina independente e viável vivendo lado a lado com o Estado de Israel. Somente uma ONU reformada poderá cumprir ideais de paz, direitos humanos consagrados em 1945”, seguiu.
Após o encontro e a coletiva de imprensa dos presidentes, Brasil e China publicaram duas declarações conjuntas, uma delas abordando o conflito na Ucrânia.
Os países expressaram apoio à retomada das negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, oferecendo-se para facilitar as discussões.
A segunda declaração reiterou os temas discutidos pelos presidentes, incluindo críticas às disputas tarifárias e comerciais, colaboração em infraestrutura e combate à fome, a necessidade de reformar a Organização das Nações Unidas e o aprofundamento das relações bilaterais.
Além disso, a declaração reafirmou o compromisso do Brasil com o princípio de “Uma Só China”, reconhecendo Taiwan como parte integrante do território chinês.
Para a China, Taiwan é uma província rebelde que ainda faz parte de seu território. Já para o governo taiwanês, a ilha é um Estado independente, com sua própria Constituição e, por décadas, se considerou o legítimo governo da China no exílio.
Acordos comerciais
Em Pequim, nesta terça-feira, Brasil e China formalizaram 20 acordos em áreas como agricultura, setor aeroespacial, ciência e tecnologia, por meio da assinatura de protocolos e memorandos.
Na véspera, o governo brasileiro anunciou um pacote de R$ 27 bilhões em investimentos chineses em diversos setores do país.
Segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil), o valor inclui:
- R$ 6 bilhões da GAC, uma das maiores montadoras chinesas, para “expansão de suas operações” no Brasil;
- R$ 5 bilhões da Meituan, plataforma chinesa de delivery – que quer atuar no Brasil com o app “Keeta” e prevê gerar até 4 mil empregos diretos e 100 mil indiretos;
- R$ 3 bilhões da estatal chinesa de energia nuclear CGN para construir um “hub” de energia renovável (eólica e solar) no Piauí;
- até R$ 5 bilhões da Envision para construir um parque industrial “net-zero” (neutro em emissões de carbono) – o primeiro da América Latina, segundo a Apex;
- R$ 3,2 bilhões da rede de bebidas e sorvetes Mixue, que deve começar a operar no Brasil e espera gerar 25 mil empregos até 2030;
- R$ 2,4 bilhões do grupo minerador Baiyin Nonferrous, que anunciou a compra da mina de cobre Serrote, em Alagoas.
Além dos investimentos já anunciados, a conta inclui aportes previstos da DiDi (proprietária da 99), da Longsys (empresa chinesa de semicondutores) e de companhias do setor farmacêutico. Também foram firmados acordos para impulsionar a presença de produtos brasileiros na China em segmentos como café, cinema e varejo.
O presidente Lula liderou uma comitiva composta por 11 ministros, o presidente do Senado Davi Alcolumbre (União-AP), parlamentares, outras autoridades e aproximadamente 200 empresários em sua viagem à China. Nesta terça-feira (13), está agendado um encontro bilateral com o presidente chinês, Xi Jinping.
Previamente à chegada na China, a comitiva brasileira fez uma escala na Rússia, onde Lula se reuniu com Vladimir Putin e fez um apelo por um cessar-fogo na Ucrânia.
Ampliação do comércio
A visita de Lula à China teve como objetivo principal intensificar o comércio bilateral. A China é o maior parceiro comercial do Brasil, e o governo brasileiro vê potencial para expandir as exportações para o mercado chinês.
Essa estratégia está diretamente ligada à disputa comercial entre Estados Unidos e China. Ministros e empresários brasileiros acreditam que o Brasil pode se posicionar como uma “alternativa” para suprir parte dos produtos americanos que a China importa.
A ApexBrasil identificou 400 oportunidades para expandir os negócios entre os dois países, abrangendo diversos setores, com ênfase no agronegócio.
A agenda dos empresários brasileiros na China incluiu eventos focados no agronegócio, como a inauguração de um escritório em Pequim por associações para facilitar a exportação de carnes brasileiras.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que integra a comitiva, participou de reuniões com autoridades chinesas, com o objetivo de concluir um acordo para simplificar o registro de produtos biotecnológicos.