Nos últimos dez anos, os benefícios pagos pelo governo se tornaram uma peça ainda mais central no orçamento das famílias em Alagoas. Entre 2014 e 2024, a participação dos programas sociais na renda domiciliar per capita do estado saltou de 5,7% para 9,5%. O crescimento representa um aumento de quase 70% no peso dessas transferências na composição da renda das famílias.
Os dados, divulgados pelo IBGE na última quinta-feira (8) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), colocam Alagoas na liderança regional. O estado tem a maior proporção de renda vinda de programas sociais entre todos os do Nordeste, superando a média nordestina de 9,4% e ficando muito acima da média nacional, que é de apenas 3,8%.
Renda do trabalho cresce, mas não resolve
No mesmo período, a renda oriunda do trabalho – seja com carteira assinada ou na informalidade – teve um leve aumento, passando de 66,4% em 2014 para 68,6% em 2024. Ainda assim, a elevação da dependência de auxílios públicos evidencia que o avanço do emprego e da remuneração no estado não foi suficiente para reduzir a vulnerabilidade econômica da população.
Programas como o Bolsa Família, o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e o Auxílio Gás continuam sendo essenciais para milhões de famílias. Eles cumprem um papel importante no combate à fome e na garantia de acesso básico a serviços, mas seu crescimento também é um alerta: o mercado de trabalho formal ainda não é capaz de sustentar a maioria das famílias de maneira autônoma.
Fontes alternativas de renda perdem espaço
Enquanto os programas sociais ganham força, outras fontes de renda vêm perdendo participação. Aposentadorias e pensões, por exemplo, caíram de 23,9% para 19,1% da composição da renda domiciliar no período analisado. Já outras fontes – como doações, aluguéis ou transferências privadas – passaram de 33,6% para 31,4%.
Mais apoio, menos autonomia
O crescimento expressivo da fatia dos programas sociais na renda das famílias alagoanas revela uma realidade paradoxal: ao mesmo tempo que mostra a importância de uma rede de proteção social forte, também aponta para a persistência de desafios como pobreza estrutural, informalidade e baixos salários. Sem avanços mais robustos na geração de emprego e renda, o apoio estatal continuará sendo o alicerce da sobrevivência de grande parte da população.