A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) recebeu um reembolso de R$ 24,7 mil da Câmara dos Deputados por uma cirurgia funcional no nariz realizada em fevereiro de 2024. A informação consta no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) e o valor foi pago no dia 1º de abril do mesmo ano.
O procedimento reembolsado é conhecido como rinosseptoplastia funcional — voltado ao tratamento de problemas respiratórios, como sinusites crônicas e desvio de septo. A cirurgia foi feita no Hospital Samaritano, em São Paulo.
Na mesma data, Hilton também passou por uma cirurgia estética no nariz. Ela afirma, no entanto, que essa parte do procedimento foi paga com recursos próprios. “O procedimento médico foi reembolsado pela Câmara Federal de acordo com as regras de assistência médica da casa e não tem nenhuma relação com qualquer procedimento estético realizado pela parlamentar, que foram custeados com recursos próprios”, disse a deputada em nota.
Erika apresentou três notas fiscais relacionadas à cirurgia. A que foi parcialmente reembolsada tem valor de R$ 26 mil e corresponde à parte médica. Outras duas, que somam R$ 22 mil, foram relacionadas à cirurgia estética, segundo a própria deputada.
Ela também justificou a necessidade médica da operação. “A cirurgia da deputada Erika foi feita por recomendação e extrema necessidade médica, após aferir-se que antibióticos não eram mais capazes de tratar suas infecções bacterianas no sinus. Erika passou por seis ciclos de antibióticos e corticoides em apenas um ano”, diz a nota enviada por sua assessoria.
Entre os procedimentos listados estão: rinosseptoplastia funcional, sinusectomia maxilar, etmoidectomia intranasal e correção de perfuração do septo nasal.
Apesar da legalidade do reembolso, a situação gerou incômodo dentro da bancada do PSOL no início de 2024, pouco depois de Hilton assumir a liderança do partido na Câmara. Durante uma reunião, a deputada comunicou que precisaria se afastar temporariamente para a cirurgia. A reação de alguns colegas foi de surpresa, o que causou desconforto, segundo relatos. A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) saiu em sua defesa.
Hilton negou que tenha informado que faria um procedimento estético na ocasião. “O que eu informei na reunião da bancada era que eu precisava fazer uma cirurgia de saúde, relacionada à sinusite, e não houve nenhum constrangimento. Meus colegas sabiam que eu estava doente e precisava me ausentar por conta de meu quadro severo de sucessivas sinusites bacterianas”, afirmou.
A cirurgia também foi comentada nas redes sociais. Em um vídeo, a mãe da deputada reagiu às críticas ao novo visual da filha: “Pessoal tá falando do nariz dela, querendo deixar ela para baixo, mas não vai, queridinho. Sabe por quê? Porque ela ficou maravilhosa. E quem está falando, sabe com o quê que está? Com recalque.”
Regras da Câmara
O reembolso de despesas médicas por parte da Câmara é regulamentado por um ato de 2013, que proíbe expressamente a cobertura de tratamentos estéticos. Porém, não há limite fixo para os valores das notas reembolsadas, desde que não ultrapassem R$ 135,4 mil por procedimento. A Casa também não divulga com clareza os detalhes sobre os tratamentos pagos.
Só em 2025, os reembolsos médicos a deputados já somam R$ 1,6 milhão. O maior pagamento individual até o momento chegou a R$ 123 mil.
O caso de Erika Hilton reacende discussões sobre os critérios e a transparência dos gastos médicos da Câmara, especialmente quando envolvem procedimentos que também podem ter conotação estética. A deputada sustenta que todas as despesas médicas reembolsadas se referem exclusivamente à parte funcional da cirurgia.